Um livro considerado clássico é, de certa maneira, uma literatura exemplar, seja essa percepção dada por cânones (grandes autores, com obras importantes e de referência, como Érico Veríssimo) ou por opiniões pessoais de leitores.
Diversos livros, escritos em outras épocas ou não, trazem vários aspectos e lições que remetem ao cenário e as rotinas atuais.
Caso tenha ficado curioso para saber sugestões de leitura desse tipo, listamos alguns exemplos incríveis e bem avaliados para exemplificar.
Livros clássicos e contemporâneos
Diversos autores retratam vivências atuais já existentes em outras épocas ou em em mundos fictícios. O controle de linguagem, conformismo social, abusos psicológicos e preconceitos são exemplos nítidos disso.
Confira como essas cinco obras clássicas e contemporâneas apresentam, individualmente, essa perspectiva no mundo moderno.
- 1984, de George Orwell
Publicado em 1949, o romance distópico (oposição à utopia) se passa na Oceania, antes conhecida como Grã-Bretanha.
Acompanhamos o protagonista Winston Smith, um trabalhador do Ministério da Verdade, que cria propaganda e faz a contínua alteração do passado para se encaixar na visão ideológica do Partido Ingsoc, o governo autoritário dominante na história.
Winston pode ser considerado apenas um cidadão comum da sociedade em que vive. Aos poucos, porém, ele começa a questionar os aspectos totalitários e a hipervigilância imposta nos cidadãos.
A nossa realidade pode não ser tão distante da obra do escritor inglês George Orwell (1903-1950) quanto parece. Nota-se um crescente número de similaridades, listamos alguns deles abaixo.
- A falta de privacidade devido à venda das informações dos usuários de sites e aplicativos para empresas e governos.
- O culto e endeusamento de personalidades e/ou políticos, como é feito pelo Grande Irmão, líder do Partido IngSoc.
- A “novafala”, usada como controle da linguagem, censura palavras negativas (não falam “ruim”, dizem “nãobom”), usa eufemismos e propositalmente limita a comunicação e, portanto, o pensamento.
- O “pensamento-crime”, como é descrito no livro, é o crime de pensar ideias contrárias ou que desafiem o Partido Ingsoc e a sua ideologia. Meramente questionar o status quo (ou seja, o estado político e social, a conjuntura atual)
- da sociedade leva a Polícia do Pensamento a lhe caçar.
- Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
Enquanto o livro 1984, de George Orwell, aborda o autoritarismo pelo âmbito político, Admirável Mundo Novo, do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), apresenta uma distopia.
Ela é ainda mais reflexiva da nossa realidade: o hedonismo (dedicação ao prazer como estilo de vida) e o egoísmo desenfreado da sociedade como um todo.
Com o uso do “Soma”, o remédio da felicidade, separações sociais entre pessoas “superiores” (os Alfas, que são bonitos e inteligentes) e pessoas “inferiores” (os Betas, que são feios e com baixo QI), a população está em constante prazer e ordem. O mundo é, na superfície, “perfeito”.
Essa ordem é criada por meio do controle social. A divisão social entre Alfas e Betas é criada desde o nascimento, que é feita artificialmente, visto que a reprodução natural é mal vista pelas pessoas, acreditando ser um método antiquado e animalístico.
Entre as similaridades deste livro com o nosso mundo contemporâneo, estão:
- o hedonismo e o foco no prazer em todos os momentos;
- o conformismo social;
- a dependência de drogas.
- Fahrenheit 451, de Ray Bradbury
Nesta obra, do escritor americano Ray Bradbury (1920-2012), opiniões próprias são censuradas e o pensamento crítico é desencorajado. A própria população apoia essas ações totalitárias.
Os livros nesse contexto são totalmente proibidos. Os bombeiros deste mundo possuem o objetivo de queimá-los, não de apagar incêndios. Quem é descoberto em posse de um deles é colocado em um hospício, prisão ou é morto.
O romance acompanha Guy Montag, um bombeiro que, ao encontrar e ler um livro, descobre a paixão pela leitura.
Alguns aspectos parecidos com a nossa realidade são:
- o desencorajamento da leitura;
- o uso excessivo da TV;
- demonização e preconceito com o que desvia do que é visto como certo pela sociedade.
- A Metamorfose, de Franz Kafka
Em um ângulo mais existencialista, o breve romance do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) é tão atemporal quanto os livros acima citados. Nele, o protagonista Gregor Samsa inexplicavelmente acorda metamorfoseado em um inseto.
Apesar da premissa absurda, todo o restante da narrativa é verossímil (parece verdadeira), que qualquer pessoa poderia experienciar. Gregor, que sustenta a mãe, a irmã e o pai, vê-se isolado de todo o mundo após a transformação em inseto, incluindo os parentes.
Samsa, ao não poder mais sair para trabalhar, é demitido e a família inteira perde o sustento. Eles lentamente se voltam contra Gregor e o isolam de modo crescente.
Entre as principais características que refletem o nosso mundo contemporâneo, estão:
- o isolamento, tanto psicológico quanto físico;
- o abuso psicológico;
- a absurdidade da existência;
- problemas familiares.
- Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski
Na sua obra mais conhecida, o escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) apresenta Raskólnikov, um estudante de direito que está falido e desempregado. Ródia, como é chamado pelos familiares e amigos, é um niilista, ou seja, acredita que nada no universo faz sentido ou que possui significado.
O postulante a advogado, que mora em um pequeno apartamento em São Petersburgo (Rússia), é continuamente incomodado pela síndica do seu prédio. Além de oferecer serviços precários a todos moradores, ela abusa da irmã mais nova, que possui problemas mentais.
Ródia, então, decide acabar com múltiplos problemas de uma vez: matar a síndica, roubar seus pertences e vendê-los para pagar suas dívidas e voltar a estudar. No seu ponto de vista, nada de ruim sairia desse ato.
A realidade, todavia, é muito diferente do que o estudante imaginava. Após o assassinato, ele mergulha em uma crise de consciência, que não acreditava passar. A angústia psicológica afeta cada aspecto da sua vida, incluindo a saúde física.
Entre as similaridades com a nossa época, estão:
- o niilismo (considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados e não há qualquer sentido ou utilidade na existência) crescente;
- a crença de que os fins justificam os meios;
- a falta de propósito na vida individual diante da sociedade.
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